interludio
Interlúdio
O despertador indicava 6:50, e ela levantou maldizendo sua indolência. “Mais um dia sem café da manhã! Desse jeito eu pego uma úlcera, e aí já era!”. Enquanto se arrumava rapidamente, pegava a chave da moto e partia como um raio para o trabalho.
Como sempre o dia não prometia nada mais a não ser o enfadonho trabalho de repartição pública: processos e mais processos acumulados e ninguém com disposição para trabalhar, e em meio a esse mundinho monótono haveria ela sentada à frente de um terminal de computador jogando tetris.
Na verdade sempre fora tudo que a instituição não queria: funcionária padrão: chegava no horário e saía no horário e não ligava a mínima se precisavam dela ou não ali. Inclusive tinha o cuidado de não se aproximar muito das pessoas.
Não que se importasse de não ter companhia, na verdade, poucas coisas a preocupavam ou mesmo se mostravam dignas de sua atenção após a morte de seus pais dois anos antes.
Até havia tentado se relacionar com outras pessoas no início, mas fora em vão. Chegara a começar um relacionamento com um rapaz da faculdade, antes de abandonar o curso, mas com o passar do tempo não conseguira passar do estágio de “gostar”...e então resolvera desistir do relacionamento.
O dia se arrastou hora após hora, minuto após minuto e durante todo o período em que ficou acordada não teve a menor lembrança do sonho da noite anterior, mesmo sentindo uma sensação de urgência em relação a algo que não podia explicar direito.
O horário de seu expediente terminou e ela juntou suas coisas, despediu-se dos colegas de serviço e foi para casa. Se algum dia acontecesse algo, sequer dariam pela falta dela.
“Devo estar ficando meio doida...Mas estou com a sensação de que estou esquecendo de algo muito importante, mas o que poderia ser?” Pensou ela antes de cair no sono outra vez.